Dia 2 em Marraquexe
Vamos começar o dia na parte sul da medina, procurando o Palácio Badii. Este, abre às 8:45, sendo necessário comprar um bilhete que custa 10 Dirham.
Palácio Badii
A sua construção iniciou-se em 1578 e terminou em 1593. Ora 1578 foi o ano em que Portugal perder a sua independência, depois do rei D. Sebastião ter desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir. Sucede que o Palácio Badii foi construído com os chorudos dinheiros obtidos pelos mouros com resgates de nobres portugueses feitos prisioneiros. Contudo o palácio teve uma relativamente vida curta, pois a dinastia Saadi, que o construiu, entrou em declínio e o sultão Ismail Ibn Sharif, que conquistou a cidade em 1677, não se interessou por Badii, retirando-lhe todas as riquezas e materiais de construção que utilizou noutros lugares, especialmente em Meknes, que fundou por esta altura.
Os estudos dizem que o palácio original tinha 360 quartos, tendo sido construído com os melhores materiais existentes na altura, inclusive ouro trazido do Sudão, mármore adquirido a mercadores italianos pelo seu peso em açúcar e outros materiais nobres, como marfim, madeira de cedro e pedras preciosas.
O palácio nunca recuperou do saque de 1677, e chegou até aos dias de hoje como uma ruína bem estimada. Pode ser bastante atmosférico, especialmente pela manhã, quando há menos visitantes.
Destaque para os calabouços, que se podem ver, chegando-se às quatro celas através de um túnel sombrio, e também para o jardim rebaixado, onde se vêem os restos dos apartamentos que eram atribuídos aos altos dignitários estrangeiros que visitavam o governante, com belo chão feito de mosaicos.
As cegonhas, animais considerados sagrados, estão bastante presentes no Palácio Badii, podendo-se observar alguns ninhos.
Palácio Bahia
Mesmo junto ao Palácio Badii vamos encontrar o Bahia, construído no século XIX e em muito melhor estado de conservação. Está aberto entre as 8 e as 17 horas e o bilhete custa 10 Dirham, cerca de 1 Euro.
A sua construção esteve envolvida em grandes ambições, já que o seu proprietário, o Grão-vizir Si Moussa, pretendia que o palácio, cujo nome significa “brilho”, fosse o mais opulento do seu tempo.
Em 1908 o palácio já tinha mudado de mãos duas vezes, primeiro passando pelo Vizir Abu Bou Ahmed, um antigo escravo negro que subiu na hierarquia, substituindo o proprietário inicial nas suas funções, e depois para Pasha Glaoui, que recebia aqui os seus convidados franceses. O palácio não deve ter desagradado de todo aos europeus, já que em 1911, quando Marrocos passou a ser um Protectorado Francês, instalaram ali o seu representante.
Note que apenas uma pequena fracção dos cento e cinquenta quartos do palácio e dos seus oito mil metros quadrados de jardins estão abertos ao público. Infelizmente toda as salas se encontram vazias.
A visita centra-se no pequeno e no grande riade. Inicia-se num pátio com arcadas que conduz ao riade menor, fruto das extensões feitas por Abu Bou Ahmed. Atente-se aqui nos magníficos trabalhos em estuque e na madeira de cedro. No Salão do Conselho o tecto está decorado com frescos. A seguir passa-se para um pátio e entra-se no grande riade, igualmente ornamentado nos tectos e paredes. Termina-se a visita passando pelo apartamento da esposa de Abu Bou Ahmed, Lalla Zinab, acrescentado ao complexo em 1898.
Cemitério Judeu de Marraquexe
Pode visitar seguidamente – de forma opcional – o cemitério judeu, mas deverá estudar bem os mapas pois não é fácil de encontrar o recinto, localizado a sul do Palácio Bahia. Será uma introdução ao Mellah (o bairro judeu) de Marrakech.
A visita ao cemitério é teoricamente gratuita, mas é esperada a oferta de uma gratificação ao guardião. 10 Dirham serão mais do que suficientes. O cemitério é um local tranquilo, afastado dos trilhos seguidos pelos turistas que visitam Marrakech e poderá até estar encerrado. Depende da vida dos dois irmãos que asseguram a manutenção do recinto. Se for Sábado não será mesmo possível visitar.
Especialmente se falar francês é provável que lhe ofereçam informação preciosa sobre o cemitério. Sabem muitas histórias e são bastante amigáveis. Não esqueça que os homens deverão visitar um cemitério judeu com a cabeça coberta. Se não tiver nada que faça o efeito o guardião certamente arranjará um kippah, a cobertura de cabeça tradicional dos judeus.
O cemitério de Miara começou a ser usado no século XVI, quando viviam cerca de 30 mil judeus no Mellah, e apesar de ter dimensões consideráveis, sendo o maior cemitério judeu de Marrocos, as constantes necessidades fizeram com que se criassem três camadas sobrepostas de campas.
Mellah (bairro judeu)
O Mellah, chamado de Hay Hessalam, já tem poucos residentes efectivamente judeus. Andam pelos três mil. Uma décima parte do número alcançado há seiscentos anos atrás. Quase todos partiram para Israel depois da criação do Estado hebraico, em 1948.
É uma das áreas mais pobres de Marrakech e raramente visitada pelos turistas e o melhor é deambular livremente pelas suas ruas, onde se pode contactar com uma Marrakech mais genuína, apesar da requalificação feita há pouco tempo ter estragado um pouco o ambiente característico do bairro.
Os Mellah fora originalmente criados para proteger a população judia, mas com o tempo tornaram-se autênticos ghettos, locais com mais pessoas do que deveriam albergar, encerrados à noite e lugar de habitação obrigatória para todos os judeus.
Recomenda-se uma visita ao mercado coberto de Mellah, talvez o melhor da cidade, onde se podem encontrar todos os produtos frescos necessários para confecionar uma refeição, desde os vegetais e frutas até à carne e ao peixe.
Existem algumas sinagogas dispersas pelo bairro, como a Lazama, a El Fasiines, a Rabbi Pinhas ou a Bitoun. Contudo, de todas, a Lazama é principal e a única que se encontra aberta ao público de forma constante. É um pouco difícil de encontrar, localizada numa rua sem qualquer sinalética. A sinagoga original foi construída em 1492, mas a que vemos ali actualmente é do início do século XX.
Museu Tiskiwin
Está na hora de regressar ao centro da medina e para o fazer poderá tomar a rua Riad Zitoun el Jdid, paralela, para leste, à rua Riad Zitoum Lakdim, que o levaria directamente à praça Jamaa El Fnaa.
Vire na segunda viela à direita, a Rue de la Bahia, e do lado direito encontrará o Museu Tiskwin, um lugar fascinante, mágico, que nos leva através de uma viagem no tempo. aqui encontramos exposta a colecção de Bert Flint, um antropólogo holandês que se estabeleceu em Marrakech em meados do século XX.
O museu está instalado num bonito riade, que merece também a atenção do visitante. A exposição pode parecer antiquada, mas esse toque oferece-lhe um charme muito próprio. É um local onde a imaginação pode e deve fluir, à medida que descobrimos as sucessivas salas, que são dez. Cada uma delas é dedicada a uma etapa de uma ampla rota de caravanas, que transporta o visitante por terras não só de Marrocos mas também da Argélia, da Mauritânia, do Niger, do Senegal e do Mali.
Apesar do conceito romântico, bem imaginado, há um facto fabuloso: cerca de 90% das peças aqui expostas foram na realidade adquiridas pelo antropólogo nas ruas de Marrakech.
Este museu encontra-se aberto todos os dias e o bilhete custa 20 Dirham.
Museu Dar Si Said
Se estiver com disposição para visitar outro museu, ao sair do de Tiskwin vire à direita e tome a primeira rua à esquerda, onde encontrará o Museu de Artesanato Tradicional de Marrocos, também conhecido como Dar Si Said.
Este museu, que abre todos os dias e cujo bilhete custa 20 Dirham, está instalado num sumptuoso palácio onde viveu Si Said, nada mais nada menos do que o irmão do Grão-Vizir Abu Bou Ahmed, aquele que terminou a construção do Palácio Bahia.
Trata-se do primeiro museu estabelecido em Marrakech e é dedicado às artes tradicionais e ofícios do país.
Cafe de France
Poderá agora dirigir-se à Praça Jamaa El Fnaa para rever o universo fantástico que ali se encontra e para relaxar um pouco, descansando as pernas enquanto bebe qualquer coisa num café histórico.
Localizado próximo do canto sudeste da praça, o Cafe du France é um histórico. Não será tradicional, mas é um dos cafés mais antigos de Marrakech.
Como o seu nome indica é um estabelecimento inspirado no conceito do café francês, procurado há muitas décadas pelos europeus residentes e visitantes. É espaçoso, ao contrário do café tipicamente marroquino, e da sua esplanada observa-se calmamente o bulício da praça. Já o seu terraço superior é um excelente local para ver o pôr-do-sol, mas será difícil encontrar uma mesa disponível nessa altura.
Trata-se de um pontos de encontro de referência em Marrakech, pois é conhecido de toda gente. A sua clientela é um curioso misto de locais e estrangeiros.
Medina de Marraquexe
É certo que, seguindo este roteiro para três dias em Marrakech, já terá palmilhado vastas áreas da medina, mas em trânsito para lugares específicos. Agora, se ainda existir energia, poderá vaguear livremente pelas suas ruas e vielas, começando pela rua Derb Dabachi, que sai da praça e que poderá encontrar se virar à direita deixando o Cafe de France nas suas costas.
É uma rua pitoresca, sempre preenchida de gente, com lojas fascinantes e onde se bebem uns batidos de leite deliciosos. Poderá segui-la, é longa. Perca-se nos detalhes, ande até onde se sentir confortável mas tente estar ainda na rua ao fim da tarde, quando as ruas se enchem ainda mais de gente.
Aprecie a medina. Afinal, é um local inscrito desde 1985 na lista de Património Mundial da Humanidade da UNESCO.
Roteiro de 3 dias em Marraquexe
Marrakech: Guia de Viagem
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